OS DESAFIOS INADIÁVEIS!
Eliezer Pacheco
Neste processo desencadeado pelos Encontros da Avante gostaria de levantar dois
desafios centrais que temos que debater (certamente existem outros):
1. A definição da IDENTIDADE política e ideológica: O que nos identifica e nos
diferencia das demais correntes? Porque somos da Avante? O que defendemos como
Identidade Política-Ideológica para a Avante?
- De nossa parte, defendemos uma corrente socialista, de lutas e revolucionária que
tenha no marxismo seu principal referencial teórico.
Uma Identidade de classe com o mundo do trabalho, pois estabelecer alianças com
outras classes e segmentos sociais não significa diluir-se ideologicamente. São alianças
estabelecidas para determinadas conjunturas;
Quando falamos de mundo do trabalho, temos que considerar que as formas tradicionais
de organização sindical dos trabalhadores, está desgastada, burocratizada e dominada
por dirigentes que se perpetuam nas direções. A sua revitalização só será possível
alicerçada nos Comitês de Luta, organizados nos locais de trabalho, estudo ou moradia.
Ao mesmo tempo, temos que buscar novas formas de organização classista, pois elas
são históricas e têm que acompanhar as novas formas assumidas pelo capitalismo. Este,
certamente, é um dos maiores e mais complexos desafios.
Acreditamos que a via institucional tem que ser explorada, porém tendo claro seus
limites, pois não alcançaremos nossos objetivos estratégicos(socialismo) somente
através dela. É necessário articular ação institucional com ação de massas e as rupturas
serão inevitáveis. Nós não podemos ser um partido da ordem. Dentro de um cenário de
intensa mobilização, em uma nova conjuntura, deverá ser chamada uma Assembléia
Constituinte que assente as bases de uma Democracia Democrático-Popular, uma
Democracia de Massas, que encaminhe as transformações necessárias no Parlamento,
no Executivo, no Judiciário, no Sistema Financeiro e nas FFAA, entre outras. Hoje, o
PT é um partido “melhorista” não chegando sequer a ser reformista, pois não pautou até
agora nenhuma Reforma estrutural, mesmo nos marcos do sistema. No momento em
que o partido definir-se apenas como um partido da ordem institucional estará
determinando seu fim como partido de trabalhadores;
A disputa ideológica é central, pois o abandono da perspectiva de classe significaria a
capitulação ideológica ante as classes dominantes. Estas utilizam em nossos dias,
principalmente, dois “ópios”: o “Empreendedorismo” que significa a sedução burguesa,
criando a ilusão de que todos podem ser burgueses (Freire já alertava que o sonho do
oprimido sem consciência de classe é tornar-se opressor) e o “Identitarismo” que
secundariza a luta geral classista pela centralidade da luta identitária. A burguesia o
incentiva porque sabe que a segmentação das lutas nunca derrotará o sistema capitalista.
Isto não significa abandonar as lutas específicas, mas situá-las no contexto das lutas
gerais de classe. No Brasil, por razões históricas, como a escravidão e a exclusão da
população negra, a luta anti-racista e de afirmação da identidade negra é importante, pois há uma identidade entre luta anti-racista e luta de classes.
2. O segundo desafio central para a AVANTE é a Constituição de um Organismo
Dirigente que seja Direção Efetiva da Corrente, com estrutura mínima, que não se limite
apenas a organizar nossa participação nas disputas internas do partido e que organize
nossa intervenção no conjunto da sociedade (movimentos sociais, intelectualidade,
juventude, etc.) fazendo a disputa na sociedade e não apenas nos aparelhos partidários.
Hoje, a Avante é uma corrente com limitada participação nas lutas travadas na
sociedade brasileira, limitando-se às disputas internas no PT. Isto é um equívoco
burocrático, pois é da luta social que constituímos novos quadros e podemos crescer.
É necessária uma preocupação constante com a construção da corrente e do partido,
tendo um Plano e Planejamento pra isto.
Esta Direção da Avante tem que ter como base principal BSB, onde está o centro
político do país e sede de nosso governo e, secundariamente SP, com uma Secreta
ria, uma organização de finanças é um boletim regular de análises e orientações para as
bases.
As Direções têm que ter uma composição conhecida e acatada por toda a militância por
seu trabalho e/ou representatividade política. As direções, hoje, são frágeis política e
organicamente. Se não resolvermos esta questão, o crescimento da tendência a levará ao
esfacelamento ou dispersão pela ausência de uma Centralidade de direção. Isto não
representa, em absoluto, uma crítica pessoal aos dirigentes que fazem o possível nas
condições atuais, mas uma questão de Política de Organização, hoje inexistente.
Na nossa opinião estes são dois desafios centrais que a AVANTE PT deve enfrentar e
superar neste processo de Encontros.
3. O Governo Lula se movimenta dentro de um contexto de grande fragilidade.
Vencemos as eleições para a presidência, mas perdemos as parlamentares e para os
governos dos principais estados. O fascismo, hegemônico nas FFAA e PMs, com forte
representação no Congresso, exige extrema habilidade do governo para, mesmo nesta
conjuntura, conseguir alguns avanços, o que tem conseguido. Mas é um governo amplo
e com inúmeras contradições. Isto exige que a chamada governabilidade não se resuma
aos acordos parlamentares, mas inclua ampla mobilização popular em favor das
transformações progressistas. Isto tem sido difícil em razão da fragilidade e
burocratização do Movimento Sindical e Popular. O cenário internacional também é
adverso com o imperialismo cada vez mais agressivo e explorador. O Brasil é um de
seus alvos preferenciais. A China e a Rússia, atualmente, são os únicos contrapontos e
por isto todos os países imperialistas travam uma guerra contra a Rússia utilizando a
Ucrânia como cunha. Apesar das versões divulgadas pela mídia, a Rússia trava uma
guerra defensiva contra o cerco das nações imperialistas comandadas pela OTAN, que
tentam cercá-la. Lula se movimenta com grande habilidade no cenário internacional
ampliando, com isto, sua legitimidade interna. Hoje ocupa a vanguarda da luta em
defesa da natureza e de combate à fome e evita analisar a histeria anti-Rússia. Em pouco
tempo tornou-se figura central no contexto internacional.
4. Israel e seu governo fascista e criminoso é, hoje, a ponta de lança do imperialismo
norte- americano no Oriente Médio. Sua política genocida tem que ser condenada e seus
responsáveis julgados por crime de guerra. O povo palestino tem direito a um Estado
soberano devendo todas as colônias judaicas ser extirpadas de seu território.
5. Nosso apoio ao governo Lula tem de ser total, reservando as críticas, muitas vezes
necessárias, para as instâncias internas do partido. O “esquerdismo” que ignora as
conjunturas, algumas vezes, é mais nocivo que a direita, pois é um ataque de dentro da
trincheira. Ele é constituído, em parte, por ingênuos ou despreparados e em parte por
provocadores infiltrados entre nós. Em qualquer hipótese tem que ser combatido.
Porto Alegre, junho de 2023.
sexta-feira, 17 de novembro de 2023
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