Para convencer e avançar!
“Desde o início por ouro e prata Olha quem morre, então veja você quem mata Recebe o mérito, a farda que pratica o mal Me ver pobre, preso ou morto já é cultural Histórias, registros e escritos Não é conto, nem fábula, lenda ou mito Não foi sempre dito que preto não tem vez? Então, olha o castelo e não foi você quem fez” Racionais MC’s
Em 2024, o Brasil completará 60 anos desde o último golpe militar, um episódio que
deixou como legado uma herança de violência e instituições militares alheias ao povo. A
falta de uma justiça de transição perpetuou os efeitos negativos da participação militar na
política brasileira. Desde 2018, o país assiste a tentativas de distorcer o passado,
obscurecendo as práticas e papéis dos agentes públicos durante a Ditadura.
Reestabelecer a verdade e reafirmar qual lugar das Forças Armadas no país é condição
sine qua non para que a sociedade possa reconhecer um passado/presente autoritário de
práticas abusivas e criminosas por parte do Estado. As Forças Armadas são instituições
permanentes do Estado brasileiro e não participam de governos, ou da arena do debate
político. Para participar das disputas políticas, emitir opinião, o militar não pode continuar
no exercício da função. Todas as manifestações políticas de oficiais das Forças Armadas
atentam contra a democracia. Todas elas tornam imperativo relembrar o período de
horror, tortura e corrupção que começou com o golpe de 1964.
O período recente da história do Brasil, em que o país foi saqueado pela horda
Bolsonarista e contou com militares na linha de frente do governo, tornam imprescindível
começar a discussão por esse ponto. As milhares de vidas perdidas na pandemia, numa
desgraça que poderia ter sido evitada em parte, os escândalos de corrupção, de transporte
aéreo internacional de drogas, de gastos exorbitantes com o imponderável (pílulas para
disfunção erétil e gêneros alimentícios injustificados), são a ponta de iceberg de um
problema de dimensões muito profundas. O Brasil precisa de uma política de defesa que
seja indissociável das liberdades democráticas da cidadania brasileira.
O PT nasce no enfrentamento à ditadura. 43 anos depois, no seio da democracia burguesa,
ainda enfrentamos todas as dificuldades de um sistema político formado nos pilares da
desigualdade social, que possibilita que a representação política do país seja
majoritariamente ditada pela força do capital. Nesse contexto social, o terceiro governo
Lula finda o primeiro ano da gestão com saldo positivo, mesmo em um país polarizado e
com um Congresso majoritariamente antipopular e com os incessantes ataques da extrema
direita. Houve batalhas perdidas em 2023 no Congresso que são marcos dessa polarização
política e ideológica.
O retorno de programas sociais, a melhoria no poder de compra da população, a queda no
desemprego são marcos positivos. A taxa de juros levou quase 10 meses para começar a
cair; sabemos que o BACEN foi utilizado como um preposto da agenda neoliberal para
impedir a reconstrução do país. Na área internacional, o Lula se destaca mais uma vez
como um líder no mundo. Assim como é inegável essa realidade, é também inegável que
o campo político adversário é muito forte. A extrema-direita não está enfraquecida, ao
contrário, todos sabemos que em 2024 o PT tem um grande teste de força pela frente.
Escândalos falseados, disputas de narrativas e muita força política com mobilização social
são esperados mais uma vez no ano eleitoral.
A extrema-direita conta com a força política daqueles que fazem comércio da fé no Brasil.
A categoria social dos evangélicos foi uma base eleitoral importante do Bolsonarismo e
é base social política das ideias da extrema-direita. Sobre essa base social, o Brasil
acompanha agora o julgamento dos golpistas do 8 de janeiro, muitas pessoas que antes
do Bolsonarismo não seria possível imaginar a participação em atos de depredação do
patrimônio público e de tentativa de golpe, imbuídas pela falsa ideia de que se
movimentam em nome da família, do nacionalismo e da fé.
Aqui eu faço parêntese: Palestina Livre. Que vergonha dessa gente que defende o
extermínio de um povo e se identifica com as ações assassinas e genocidas da extrema-direita que gorvena Israel e dos EUA. Que revolta sobre o papel de convencimento dos
mercadores da fé nesse episódio nefasto.
O 8 de janeiro representou o ápice de um movimento antidemocrático na história recente,
uma tentativa de golpe que vinha sendo gestada dentro do governo federal. O Brasil
ingressou em um novo capítulo antidemocrático com o golpe parlamentar de 2016. Sete
anos após o impeachment, com uma economia em ruínas e a população sofrendo, Brasília
foi palco de outra investida desse golpe, desta vez uma tentativa frustrada. Essa
empreitada ocorreu após uma eleição acirrada, marcada por um orçamento secreto e
outros artifícios criminosos. A eleição se desdobrou em uma arena inimaginável, com
muitas regras sendo quebradas e outras mantidas pela influência de quem liderava o
Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Vale ressaltar que houve intensa mobilização popular
e habilidade política ao envolver setores do centro e da direita nessa campanha, resultando
em uma estreita diferença de 2 milhões de votos e na vitória da chapa Lula-Alckmin.
Refletir sobre as questões que levaram à vitória nas eleições de 2022 é fundamental para
construir o caminho da luta socialista. A ascensão da extrema direita deixou marcas no
país, social e ambientalmente. O Brasil de 2024 é caracterizado por maior degradação do
patrimônio ambiental, de mais desigualdade social, mais racismo, mais violência
misógina e mais intolerância em todas as esferas da vida. É um Brasil em declínio em
comparação a 2016.
Por isso é fundamental falar de temas como a segurança pública. Se falamos em justiça
de transição sobre a ditadura militar, há um processo ainda mais amplo e violento pelo
qual o Brasil também não teve sua justiça de transição: a escravidão. E a herança
escravocrata do Brasil faz das pessoas negras as mais vulneráveis e mais violentadas nesse
país. Além da violência urbana que a população enfrenta por parte de quem age fora da
lei, o povo negro enfrenta a violência praticada pelo Estado, por forças de segurança
pública que operam na lógica de que há um inimigo interno a ser combatido, e esse
inimigo é favelado e negro. E a justificativa para esse combate é a mais hipócrita possível:
as drogas.
Não é possível mudar esse cenário com um ajuste da política atual de segurança pública.
E não será possível mudar sem debater abertamente temas sensíveis como guerra às
drogas e racismo. Uma parcela do PT faz a opção de fugir de temas sensíveis. Outra
parcela acredita que pautas civilizatórias são pautas identitárias. É completamente
antipopular negar a importância das lutas contra as opressões. As pessoas precisam ser
mobilizadas a lutar por suas inúmeras questões e nessa investida, convencidas de que o
Socialismo garantirá a cidadania plena que buscamos.
Como dizer a um indígena que a identidade dele é uma questão secundária, nesse país em
que os povos indígenas foram dizimados, roubados e violados em todos os aspectos?
Como dizer a uma mulher negra, que a igualdade chegará para todos com a mudança no
sistema econômico, se vocês não compartilham da exploração capitalista na mesma
proporção.
Não é viável dissociar as questões da exploração, opressão e dominação, pois contraria a
dialética. A exploração econômica, essencial para entender o mundo, a vida e a história
da humanidade, não é uma questão isolada, mas intrinsecamente conectada a todas as
outras dimensões sociais. Interseccionalidade e luta.
Combater as pautas populares, chamando-as de identitárias, é a armadilha da negação da
luta contra as opressões. É não disputar culturalmente a massa. Se o capitalismo é capaz
de falsear o abraço às identidades para perpetuar o sistema, é obrigação dos socialistas
abraçar as identidades para defender uma igualdade social e de direitos.
É preciso ganhar o povo para a luta! O PT precisa mais do que apenas ganhar o governo
federal, precisa transformar a preferência eleitoral em votos nas suas chapas
proporcionais e em suas candidaturas nas cidades. Isso exige uma disputa ideológica
contínua e bem articulada. O trabalho de base alinhado à afirmação da luta por todos os
direitos e pela igualdade social é essencial se somos um Partido que luta pelo Socialismo.
Elen Coutinho
PT Avante, socialista, de massas e militante.
Coletivo Avante PT, Socialista e Militante - Bahia